Passaram anos a estudar, saíram da Universidade com um diploma e cheios de expectativas, mas a dura realidade do desemprego é uma constante sombra no futuro dos jovens licenciados.
Actualmente o mercado de trabalho oferece-lhes estágios não remunerados ou trabalhos muito precários. A maioria dos licenciados passa anos a recibos verdes ou em contratos de seis meses. Sem estabilidade, muitos deles continuam a depender dos pais, até terem a vida organizada.
Neste momento, segundo dados do centro de emprego, existem cerca de 31 mil desempregados com curso superior registados no segundo trimestre deste ano. 55% dos licenciados não arranja emprego em menos de um ano, um número superior àqueles que têm apenas o 9.º ano.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) o desemprego atinge 65 mil portugueses, na sua maioria jovens. Relativamente à taxa média de desemprego da população activa com ensino superior completo, em Portugal Continental, esta abrange 6,6%, em Portugal esta atinge 6,4% e na Região Autónoma da Madeira esta apresenta uma taxa de 3,4%.
Tirar um curso superior continua a ser uma aposta para muitos jovens que pretendem garantir uma vida estável, melhor remuneração e progressão na carreira. No entanto, não é o que está a acontecer. Muitas vezes uma licenciatura torna-se um impedimento em arranjar trabalho, uma vez que este exige uma maior remuneração, logo as pessoas com menos habilitações literárias passam menos tempo no desemprego.
Dados do Ministério do Ensino Superior e do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) revelam que os 15 cursos mais frequentados são também os que apresentam maiores taxas de desemprego.
Gestão é a licenciatura com o índice mais alto, com mais de 30 mil candidatos a gestores de empresas, o que faz as Ciências Empresariais a área com a maior taxa de desemprego.
Direito surge em terceiro lugar com 16 mil alunos inscritos, Enfermagem com 15 mil alunos e Psicologia com 11 mil estudantes.
Medicina continua a ser o curso com mais saída profissional, sendo também bastante procurado pelos alunos.
Analisando os dados, possuir um curso superior não é garantia de emprego certo.
“Irei estar mais um ano desempregada?!”
Cátia Prazeres, natural de Vila Pouca de Aguiar, é um exemplo de muitos licenciados que enfrentam o desemprego. A mesma frequentou o curso de línguas e literaturas clássicas, na Universidade de Coimbra, entre os anos 2003 e 2008, desde então, não conseguiu arranjar emprego na sua área.
Neste momento, Cátia Prazeres está desempregada “há pouco tempo”, mas não na sua área. Logo depois de ter finalizado o curso esteve “um longo ano desempregada”.
“A mais-valia para muitos desempregados é o shopping. Deparamo-nos lá com muitos licenciados a trabalhar, mas neste momento reflectiu-se bastante com a crise, dispensando alguns funcionários.” declara Cátia Prazeres, que já trabalhou em duas lojas de roupa.
“A não ser o shopping não vejo mais nenhuma perspectiva de emprego, é frustrante. Irei estar mais um ano desempregada?! Não sei mas esta expectativa de estar à espera torna-se de dia para dia cada vez mais pesada!” desabafa.
No primeiro ano em que Cátia Prazeres esteve desempregada dedicou-se “às tarefas domésticas” e inclusive trabalhou “num bar aos sábados”, confessa. Com a chegada do Verão foi durante um tempo trabalhar para uma quinta onde organizavam casamentos. “Tive de me aplicar a diversas tarefas, entre as quais, limpeza, decoração e a minha principal função era servir bebidas no bar. Em Março de 2009, um ano depois de ter acabado o curso, tive a oportunidade de trabalhar numa loja de desporto, na minha vila, até Dezembro desse ano. Logo depois fui para o shopping trabalhar e mais uma vez para uma loja de roupa”, afirma.
Relativamente ao sentimento em ser licenciada e não ter emprego, Cátia confessa: “A verdadeira palavra para definir o que sinto é frustração! Tantos anos dedicados ao estudo e tanta despesa monetária para acabar a trabalhar em lojas como mera caixeira. É tão frustrante para mim como para os meus pais que acabaram por fazer essa viagem comigo ao longo de todos estes anos académicos. Chega a ser deprimente e revoltante o tempo desperdiçado em vão!” confessa revoltada.
Enquanto estudava, Cátia Prazeres não tinha noção do mercado de trabalho: “nunca tinha pensado no que iria ser depois de acabar a licenciatura. Sabia da dificuldade que os meus colegas tinham em trabalhar na área e sabia que a maior parte deles se tinha dedicado a uma profissão diferente da qual eles se tinham preparado para ter. Só uns tempos depois de ter acabado o curso é que realmente vi que poucas hipóteses ou nenhumas haveria em trabalhar na área pretendida. Tive então de deixar currículos em todo lado, hotéis, hipermercados, lojas, entre outros, na esperança de que algo me pudesse aparecer”.
Em jeito de conclusão, Cátia Prazeres acrescenta: “na minha humilde opinião acho que há poucos cursos que nos podem valer de muito para um futuro sorridente, excepto algumas engenharias, medicina e pouco mais. O mercado de trabalho está sobrelotado de licenciados. Muitas empresas têm preferência pelos técnicos, finalistas de cursos profissionais, aos engenheiros, porque estes últimos têm de receber um salário bem mais elevado do que os primeiros e as funções por eles exercidas muitas vezes são idênticas. Muitos licenciados tais como os enfermeiros ou professores de letras têm oportunidade de sair para outro país mas nem sempre é fácil deixar família e todo o resto para trás! Há que pensar muito bem antes de ingressar na universidade, não podemos escolher o que gostamos de estudar, tal como eu fiz, mas sim, aquilo que nos garanta um futuro promissor” conclui a licenciada desempregada.
Por: Rita Martins e Andreia Mota
Imagens: DR
1 comentário:
Adorei a forma como vocês encadearam o texto e as respostas! É um artigo bem formulado. Parabéns pelo trabalho minhas meninas ;).
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