Rui Raimundo, eleito presidente da Junta de Freguesia de Tarouca pelo PSD, em 2009, debate-se há mais de um ano com um cenário monótono, marcado pela crise e pela falta de liberdades individuais dos tarouquenses.
De mãos e pés atados, o Presidente luta pela melhoria da qualidade de vida dos cidadãos do Vale Encantado do distrito de Viseu, sem o apoio da Câmara Municipal.
Rui Raimundo_ Sim, sempre!
2.O facto de trabalhar na área da Administração Pública despertou o seu olhar crítico em relação à política ou sempre se interessou por este meio?
Rui Raimundo_ Desde muito novo que me interesso pela política em geral. Já desde que era estudante do Liceu Latino Coelho, em Lamego, que faço parte da JSD. Depois de terminar os estudos fui para a tropa, depois da tropa vim para Tarouca e aqui só comecei a integrar-me na política local quando o PSD passou para a oposição porque enquanto fez parte do poder nunca suscitou o meu interesse. Há treze anos que eu me tenho vindo a empenhar para voltar a colocar o PSD no devido lugar!
3. Em Setembro do ano passado candidatou-se pelo PSD à Junta de Freguesia da cidade. Quando é que surgiu a ambição de ocupar um cargo político ao nível local?
Rui Raimundo_ Já me tinham sido feitos vários convites nesse âmbito e eu nunca aceitei devido ao facto de ter uma vida muito preenchida quer profissional, quer familiar, e não tinha muita disponibilidade para mais esse encargo. Entretanto, como sou um crítico do poder local instituído, senti-me na obrigação de agir. Surgiu, nesse contexto, outro convite e eu resolvi, no ano passado, candidatar-me à Junta de Freguesia e cá estou.
5. Quais foram as armas que utilizou na campanha eleitoral, para conseguir reunir o apoio dos habitantes do concelho?
Rui Raimundo_ Foi uma luta muito difícil.
Toda a gente sabe que a maioria dos habitantes do Concelho apoiam o Partido Socialista e em termos partidários não estávamos a lutar com as mesmas armas. A única arma que eu tinha era eu próprio e a minha capacidade de comunicar com as pessoas, enquanto que, do lado oposto, existiam grandes meios para fazer a campanha eleitoral.
Um factor positivo de que me apercebi foi de que as pessoas já começam a fazer a distinção entre os partidos e os candidatos. Quando me apresentei como candidato a Presidente da Junta, o Senhor Valdemar candidatou-se pelo mesmo partido a Presidente da Câmara, mas a população local não o conhecia muito bem e, por isso, as pessoas dirigiam-se a mim e diziam-me que me apoiavam para ocupar o cargo de Presidente da Junta mas para a Câmara Municipal não votariam no PSD porque não conheciam o candidato. O nosso partido debatia-se com uma luta terrível e eu pedia às pessoas que votassem no mesmo partido em termos de Câmara e Junta de Freguesia para não haver uma discrepância em termos de ideologias. E o que é certo, é que, nas urnas, para a Junta e para a Câmara houve uma diferença de vinte e poucos votos, o que me faz perceber que a mensagem era bem recebida por parte das pessoas.
4. Desde que ganhou as eleições e ocupou o cargo de Presidente o que é que, na prática, se veio a alterar na sua vida?
Rui Raimundo_ Acima de tudo, mais trabalho, mas é gratificante porque sempre gostei imenso de contactar com pessoas. Infelizmente, através deste contacto, apercebo-me de muita miséria no concelho, muitas vezes miséria não só em termos financeiros, mas também de pobreza de espírito. Existem pessoas que têm muito dinheiro, mas não sabem utilizá-lo e vivem em condições degradantes!
5. E o facto de ter ganho o PSD na Junta da Freguesia e o PS na Câmara Municipal tem condicionado o relacionamento político entre estas duas entidades?
Rui Raimundo_ Seria hipócrita se dissesse que não… Embora o relacionamento institucional seja cordial, nesta fase, o que é certo é que seria diferente se ambas as entidades estivessem do mesmo lado.
Por vezes apresento algumas propostas para a Junta que, na maioria das vezes, são aprovadas, mas depois não passam de propostas que não consigo concretizar por entraves que a Câmara Municipal coloca.
Uma das coisas pelas quais luto, neste momento, na política em Tarouca é a liberdade de expressão, que aqui, infelizmente, não existe. As pessoas não deveriam ter medo de represálias pelo facto de fazerem opções políticas, de quererem manifestar-se nas ruas ou nos cafés, mas o facto é que isso não acontece. Não estou a atribuir a culpa e alguém em específico, mas o facto é que as pessoas têm de lutar contra isso.
6. A nível nacional, como classifica a política neste momento?
Rui Raimundo_ Com toda a sinceridade penso que estamos muito mal!
Penso que neste momento as pessoas fazem muitos sacrifícios e travam uma luta constante por um tempo indeterminado. Por outro lado, o estado está a “entrar cada vez mais no bolso dos contribuintes” e eu apercebo-me desse facto porque também trabalho no Ministério das Finanças. Como é visível, os portugueses não estão satisfeitos com isso porque já há mais de uma década que as pessoas fazem sacrifícios e o país está a regredir cada vez mais. Poderemos comprovar isso através da situação do Orçamento Geral do Estado, que é mais um episódio da “politiquice” que reina no nosso país, em que os interesses partidários se sobrepõem aos interesses nacionais e penso é um factor lamentável na política.
7. O facto da política nacional se encontrar nesta situação, pode de alguma forma condicionar a administração local?
Rui Raimundo_ Obviamente que o estado da política nacional interfere na política local, embora a Administração Local seja responsável por muita coisa… Por exemplo, nas polémicas ligadas com os funcionários públicos. É um facto que houve um corte nos funcionários. No caso de Tarouca, lembro-me que nas Finanças e na Tesouraria trabalhavam cerca de onze pessoas e actualmente trabalham cinco. Ainda assim se diz que existe um número elevado de funcionários públicos. Como é do conhecimento de toda a gente, esse número elevado só existe nas Câmaras Municipais, o que eu discordo. As Câmaras Municipais não têm de ser vistas apenas como entidades empregadoras, mas têm de reunir condições para criar dinâmicas de emprego nos municípios, o que na maioria das vezes não acontece e esse factor é conduzido ao extremo.
8. Tendo em conta o contexto da política local e nacional, quais são as suas previsões para os próximos anos para os tarouquenses e para a sociedade portuguesa no geral?
Rui Raimundo_ Prevejo, acima de tudo, tempos difíceis.
Imaginemos uma pessoa que, inserida num agregado familiar, tenha uma remuneração de cerca de 2000€. De acordo com este novo Orçamento, esta remuneração sofrerá um corte de 3,5%, no mínimo. Além deste corte imediato, o contribuinte será também abrangido pelos aumentos dos descontos para a Caixa Geral de Aposentações, aumentos para a ADSE e cortes nos benefícios fiscais. Para além destes factores, somam-se todas as despesas de uma família normal (em Educação, Habitação, Saúde, Alimentação). Numa fase anterior, o agregado familiar poderia reaver parte desse montante no reembolso do IRS, no próximo ano este reembolso será mínimo.
Posso afirmar que, se até hoje, existem pessoas que estão a viver com muitas dificuldades aqui em Tarouca e se dirigem a esta instituição a pedir apoio em situação de desespero, prevejo que nos próximos tempos estes casos aumentem e tenhamos de ajudar muitas pessoas!
Por: Ana Rafaela Sarmento
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