Um dia destes fazia um zapping matinal pelos jornais online quando me deparo com uma notícia, publicada no Expresso, que ostentava o seguinte título: “Uganda: Jornal publica lista de 100 homossexuais e pede punição”. Para uma pessoa que estuda e vive o Jornalismo, o conteúdo desta notícia não passa indiferente, porque contraria tudo aquilo que aprendemos, que lemos e que vivenciamos quando trabalhamos num meio de comunicação social.

Desde quando um jornal, ou qualquer outro media, apela à violência? Desde quando viola o direito à privacidade? O mais simples no jornalismo é contar uma história, mas a forma como o fazemos exige muito mais, exige bom senso, responsabilidade, uma certa objectividade, independentemente do local onde é praticado e das condições.
Primeiro, a devassa da vida privada. Todas as pessoas têm direitos. Ver a sua vida exposta desta forma não é de todo o objectivo do verdadeiro jornalismo, mas até isso se encontra, nos dias de hoje, um pouco enevoado. Existe mesmo um verdadeiro e genuíno jornalismo?
Qual o objectivo, a noticiabilidade subjacente à divulgação de uma lista com a orientação sexual de um cidadão? Depois de inúmeras manifestações, de múltiplos debates e de aprovadas leis, hoje, em pleno século XXI, uma sociedade evoluída (penso eu) e regrada dentro dos limites da liberdade de cada um, assiste-se a uma situação deste tipo. E o pior: através de um meio de comunicação social, aquele que pretende ser um veículo entre o poder e a sociedade, uma ponte, um local onde os cidadãos deveriam encontrar soluções e não ódio ao próximo.
Segundo, qual o interesse jornalístico desta peça? A justificação para a primeira página do Rolling Stone foi exactamente o “interesse público”. Mas será relevante e importante uma pessoa saber se outra é homossexual ou não? Será que esse conhecimento irá ou deverá alterar as formas de relacionamento e de convivência?
Outra das razões invocada foi a de que a “sociedade precisa de saber que estas pessoas existem entre nós. Algumas estão a recrutar as nossas crianças para a homossexualidade e isso é uma coisa má, precisa de ser exposta.” As palavras são do editor do jornal, uma pessoa íntegra, profissional e que é um verdadeiro exemplo de um jornalista objectivo e imparcial.
Por mais desenvolvimento que haja, por mais formação que se tenha, por mais lições de vida que se aprendam, por mais sucessos que se tenha, haverá sempre, por aí, alguém que insiste em ser diferente.

Por Ana Teixeira

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