É desta forma que João Silva, Treinador de Golfe Nível IV, certificado pela PGA Portugal, treina atualmente no Campo de Golfe de Amarante. Iniciou a sua atividade com apenas 16 anos e desde aí nunca mais parou. 


O seu dia-a-dia no campo divide-se entre aulas de iniciação à modalidade, aulas individuais, aulas coletivas, aulas para juniores, atividades para empresas, etc.


Como surgiu a paixão pelo Golfe?
O golfe surgiu na minha vida por acaso, numa atividade de Verão que acabou por despertar em mim outro interesse. Éramos um grupo e eu fui convidado para representar o Clube (Amarante). Foi quando comecei a levar o Golfe mais a sério.

Durante o seu percurso contactou com outras modalidades? Quais?
Sim, a minha área de formação é em Desporto e as minhas modalidades eram outras, Andebol, Voleibol, etc., atividades mais dinâmicas, e se calhar, um bocadinho mais agressivas. O Golfe até aí não se encaixava muito no meu dia-a-dia porque ainda não tinha tido essa experiência, partir do momento em que experimentei, encaixou na minha maneira de ser, mais tranquila, e acabou por ficar.

Porque escolheu esta modalidade e não outra, com um futuro com mais visibilidade, por exemplo?
O futebol, por exemplo, tem mais visibilidade e ganha-se mais dinheiro, mas eu não tinha grande apetência, por isso não enveredei nesse caminho, a palavra paixão resume a minha escolha e decidi empenhar-me no Golfe.

Se tivesse que descrever o Golfe como o descreveria?
Tranquilidade, paixão e encanto. A partir do momento em que as pessoas têm noção do que é conseguir bater na bola torna-se viciante, tenta-se sempre conseguir um bocadinho mais de precisão, um bocadinho mais de distância. Neste momento, é a minha vida!

É fácil jogar Golfe?
Depende. Acima de tudo, quando as pessoas começam a jogar tem de ter dentro delas a boa vontade de aprender. Tecnicamente é um bocadinho exigente, mas posso dizer que, até hoje, não tive ninguém que eu tenha iniciado e que não tenha gostado. Depende muito também do tempo que uma pessoa consegue dedicar à modalidade, dada a exigência técnica que temos. No início o essencial é não termos um período muito longo entre os treinos, precisamente para conseguirmos cimentar um bocadinho mais os conhecimentos. 

Quando tomou essa decisão tinha consciência das dificuldades que podiam surgir?
Sim, claro que sim. Principalmente em Portugal, porque continua a ser considerada uma modalidade muito conotada como elitista, o que limita bastante: primeiro na aceitação por parte das pessoas, que ainda não é a que desejaríamos e o facto de estar inserido numa cidade não muito participativa, apesar dos 13 anos de existência do campo em Amarante. A nível familiar, poderia ter tido alguma dificuldade porque a modalidade era desconhecida, no entanto contei com o apoio dos meus pais, que era o mais importante para mim naquela altura, e partir daí tudo se foi desenrolando de forma natural.

E a nível nacional que dificuldades enfrenta este desporto?
No nosso país ainda não tem uma grande cobertura, está a começar agora a ter mais visibilidade, desde há um, dois anos para cá. Até então só costumávamos assistir na televisão falar do Golfe quando uma das grandes personalidades do nosso país aparecia ou num torneio, ou a “dar a cara” por alguma ação de beneficência, o que equivocava as pessoas uma vez que pensavam que só eles é que tinham acesso à modalidade.
Em termos de apoios, patrocínios a nível das equipas  e até dos treinadores, existem sempre alguns, especialmente de empresas que têm pelo menos um elemento que já joga, o que já permite ter outra noção sobre o Golfe. No entanto, as empresas ainda não têm o retorno que as empresas gostariam de ter.

Lembra-se da primeira prova em que participou?
Lembro, já foi em 1998. E foi pautada por aquele nervoso miudinho desde o início até ao fim. Foi uma experiência bastante agradável, especialmente porque consegui ter um convívio maior com os sócios e acredito que se o “bichinho” não tinha mordido até aí mesmo a sério, foi nesse dia que ficou.

Treina crianças e adultos. Treina mais crianças ou mais adultos?
De forma mais regular, treino mais crianças, em termos de número, provavelmente adultos. Mas os treinos mais consistentes é com as crianças, aqui na Escola de Golfe de Amarante contamos com um grupo de cerca de 30 crianças. No caso dos adultos, sempre que algum deles sente necessidade de melhorar o seu jogo, recorre aos serviços do treinador e da escola.

Trabalha com pessoas de que idades até que idades?
Homens, mulheres, meninos e meninas, desde os 4 até aos 77 anos.

Como se treina uma criança de 4 anos?
Lida-se de uma forma um bocadinho mais lúdica, ou seja, eles tem uma capacidade de imitação muito grande, nós fazemos um movimento e eles, à sua maneira, tentam copiar. Depois é deixar o tempo passar e perceber que o movimento ficou.
Nós vemos nos grandes atletas que o movimento que eles criam aquando a sua formação e o que eles têm quando são profissionais já de competição, tecnicamente não varia muito.

Com que idade deve uma criança começar os treinos?
Interessa que as crianças tenham um contacto com a modalidade o quanto antes por causa da ambientação com o equipamento, com o espaço, etc., quanto mais cedo isso acontecer melhor.

Como treinador de crianças acredita que este desporto consegue de alguma forma modelar o comportamento dos mais novos?
Muito. O Golfe, contrariamente a outras modalidades, rege-se muito por regras. Temos o nosso código de etiqueta, o código de vestuário, e viso que não é necessário um grande investimento associado a isso.
No caso das crianças molda-se a sua personalidade uma vez que tem que existir um respeito muito grande para com o terreno, o espaço, as pessoas. Os cuidados com o campo são muito importantes. No caso da bola que caia num obstáculo de areia, joga e alisa no final, um pedaço de relva que sai, tem que ser recolocado, uma marca feita no green tem de ser reparada.
Há um conjunto de regras que tentamos incutir nos mais novos, que no fundo fica para a vida, não se fala alto, não se grita, não se corre. E o grande respeito pela natureza.

Durante os seus treinos o que vai focando mais?
O golfe é uma modalidade mais técnica, ou seja, somos nós o taco e a bola. Por ser uma modalidade individual requer muito de nós.
No treino tento abordar tudo que diz respeito ao jogo, desde a técnica, a tática de jogo, e muito do jogo mental ou psicológico.


Pode-nos descrever um dos seus dias de treino?
Varia muito consoante o escalão. No caso de um adulto, tentamos ir sempre de encontro às necessidades das pessoas, seja jogo curto, jogo longo, etc. Primeiro identificamos o erro, recorrendo já a sistemas multimédia, filmamos o swing do jogador, analisamos com um software próprio, identificamos os erros e passamos para a prática executando com exercícios aquilo que é necessário corrigir.
No caso das crianças, como é um treino mais regular, fazemos o aquecimento, que é a parte essencial, começamos a bater as bolas para que o corpo responda àquilo que pretendemos e depois trabalhamos várias áreas, todas as técnicas que vamos encontrando dentro da modalidade.
Depende da altura também. Sempre que os torneios se aproximam tentamos dividir os ciclos consoante o torneio e a sua importância. Tentamos focar as características do campo.

Em Portugal a modalidade começa a ser mais conhecida?
Sim, nas televisões já passa um bocadinho mais Golfe, existe até um canal desportivo específico, é pena, no entanto, que não seja um dos quatro canais acessíveis a todos.
Em Portugal já houveram grandes competições, nacionais e internacionais, que acabam por não ter a cobertura que deveriam.
O interesse pela modalidade e o crescimento começa a existir, ainda que de forma gradual.

Aqui no Campo de Golfe de Amarante, quem vem jogar é de cá? Têm mais gente de cá ou de outras cidades?
Em Amarante já temos bastantes jogadores, estamos a organizar campanhas e iniciativas para angariar mais jogadores, e fazer com que as pessoas percebam a valorização que tem a localidade pelo facto de ter um campo de Golfe.
Neste momento ainda temos muitos sócios da região do grande Porto e alguns estrangeiros.

Não podemos negar que em Portugal o Futebol é o “desporto rei”. Numa tabela, para si, que lugar ocuparia o Golfe?
Neste momento relativamente a outras modalidades, o Golfe deve estar, aí em 5º ou 6º lugar. Apesar de muitas vezes a representação a nível internacional ser muitas vezes superior com o Golfe do que com outras modalidades. Nós podemos, através da informação da federação, ter dados muito interessantes sobre os nossos atletas  que ganham provas de grande prestígio no estrangeiro e cá, mas sendo provas internacionais. Mais uma vez, falta a projecção.

Imagine que um dia tinha o poder de decidir o futuro do golfe a nível nacional. Qual a primeira medida que tomaria?
Aquilo que nós precisamos para ter cultura de golfe seria que esta modalidade fosse considerada nas escolas uma disciplina curricular. Nós temos desenvolvido isso, através de iniciativas em escolas, precisamente para aproximar as camadas mais jovens da modalidade e colocando-os a praticar.
Facilmente desde cedo, as pessoas tendo contacto com a modalidade seria mais comum. Essa seria a medida que tentaria implementar, uma maior aproximação com o público.

4 comentários:

Patrícia disse...

Excelente entrevista... :)

Unknown disse...

Muito bem "compincha". até fiquei a gostar mais um bocadinho de golfe, eu que já experimentei e não achei piada nenhuma, deve ter sido por não ter tido uma grande explicação sobre o desporto.

Cidália Monteiro disse...

Obrigada!
Eu confesso que depois da entrevista fique bem curiosa em relação a esta modalidade!

Patrícia disse...

Tens de vir ter umas aulinhas... :P

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