Já não é novidade para ninguém. O desemprego é, quase todos os dias, senão todos, tema de conversa. Nos media, as notícias são às resmas e a tendência parece que se irá manter nos próximos tempos. Já não bastava o actual cenário, agora a situação vai piorar quando surgirem as consequências das mais recentes medidas de austeridade que, regra geral, vão provocar um maior aperto nos bolsos dos portugueses, tornando-se ainda mais insustentável para aqueles que não têm emprego.

Um projecto de vida, uma luta de anos, um esforço tremendo a todos os níveis: pessoal, psicológico e social. Obter uma licenciatura era, há alguns anos, uma credencial, um passaporte para um emprego estável e bem remunerado. Hoje, em pleno século XXI isso não dá quaisquer garantias. Apesar de todo o desenvolvimento a que assistimos, muito se alterou, mas não foi para melhor. De quem é a culpa por este cenário negro? Uns dirão convictamente que é do Governo, outros encolherão os ombros em sinal de indiferença ou de conformismo. Pior que isto é impossível, dirão.

Uma notícia publicada no ionline dava conta que os “licenciados demoram mais tempo a encontrar trabalho”. De acordo com essa notícia, as pessoas com qualificações inferiores, em concreto com o 9º ou o 12º anos, não apresentam tanta dificuldade em encontrar emprego, ainda que as taxas de desemprego continuem elevadas: 52,2 por cento e 51,7 por cento, respectivamente, enquanto a taxa de desemprego de licenciados se situa nos 55 por cento. Os analistas apontam, entre outras razões, o “desencontro crónico entre as qualificações à saída das escolas e universidades e as necessidades reais do mercado de trabalho”.

E, na minha opinião, o principal problema reside exactamente neste ponto: no “desencontro crónico entre as qualificações e as necessidades reais do mercado de trabalho”. E aqui a culpa não é apenas do Ministério da Educação ou das Universidades, mas dos próprios estudantes. Numa altura em que é evidente que o que o País menos precisa é de jornalistas e comunicadores, professores, entre outras profissões, é quando esses cursos continuam com um elevado número de vagas, aumentando até, em alguns casos, essas mesmas vagas. Pergunto: para quê escolhê-los? Para dizer que se tem uma licenciatura, um canudo? Para se dizer que se é “quase jornalista” ou publicitário ou um senhor professor? Para se dizer que com este curso vamos ter um emprego num gabinete bonito e com um salário rechonchudo?

Pura ilusão. Só os muito bons é que conseguem prosperar neste mercado e já não com as mesmas condições de outrora. Hoje os profissionais têm de ser multifacetados.

Não falo apenas dos cursos de comunicação, mas de todos aqueles em que as taxas de desemprego se notam com maior evidência. Hoje, mais do que nunca, não nos podemos restringir ao que temos (licenciatura), mas ao que podemos efectivamente fazer e ao que está disponível. Não interessa se a posição é superior ou inferior.

Por outro lado, está na hora das instituições de ensino deixarem de lado o proveito económico e passarem a importar-se mais com as necessidades reais do mercado de trabalho, abrindo ou fechando cursos. Já ao aluno pede-se responsabilidade na hora de escolher, ponderando as possibilidades futuras de emprego. Hoje, infelizmente, já não se pode ter em conta apenas o que se gosta de fazer. Isso foi em tempos e esses “tempos” podem não mais voltar.

Por Ana Teixeira

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