Infelizmente não vivi quase nada dessa época. Adoraria, imenso, passar horas e horas numa discoteca agarradinha a alguém (de preferência por quem eu sentisse um fraquinho) a dançar slow.
Mas lembro-me, mesmo pequena, que ainda cheguei a dançar com um primo nas festas que se faziam na varanda lá da casa onde eu vivia. Nos combatentes, em Luanda. Naquele tempo dançava-se. Dançava-se muito. Uma das danças que não podia faltar era o slow. Ao som dos velhos discos de vinil e cassetes. Músicas lentas, românticas, relaxantes para dançar cara-a-cara. O momento podia servir para reconciliações entre casais e também originavam começos de namoros. O meu pai e a minha mãe apaixonaram-se assim, disse ela. Os senhores não tinham vergonha nenhuma de pedir às senhoras para dançar. Era pequena, mas lembro-me perfeitamente.
O tempo dos slows desapareceu. Aquele gesto dos cavalheiros de estender a mão e pedir a moça para dançar desapareceu. Hoje, na maioria das discotecas, só se ouve músicas batidas a noite toda. Acho horrível. É “bum bum bum” toda a noite. Electrónica, rock, enfim, barulho. Traz-me dor de cabeça. Já não se dança coladinho. Está fora de questão ouvir e dançar um bom slow. Quando entro numa discoteca com músicas de barulho, e vejo pessoas praticamente paradas, com o copo na mão e a fumar, acho-as umas tristes. E pergunto-me: porque é que essa gente sai de casa? Como diz o ditado, “os incomodados que se retirem”, então, retiro-me eu.
Os que viveram bem essa época dos slows dizem que as músicas que estavam mais no auge eram as francesas, como Ma vie, de Alain Barrière, entre outras.
Mas também músicas como Angie, dos Rolling Stones, Please forgive me, de Braian Adams, entre outras, estiveram no pico da era dos slows. Os miúdos de agora não sabem o que perdem. Não sabem o que é transpirar a dançar. Saem das discotecas da mesma maneira que entram: secos.
E quando falo dos slows, refiro-me também a todo o tipo de dança ou música que é “dançável” a dois: tango, valsa, salsa, kizomba, merengue, entre outras. Hoje em dia é difícil encontrar discotecas com essas músicas. Talvez na grande cidade, Lisboa, haja lugares específicos com esse tipo de música e talvez se possa dançar. Em contrapartida, não devem ser lugares frequentados por miúdos, porque acham que é sítio para os “kotas”. Hoje os rapazes não pedem às raparigas para dançar e elas também não se importam. Talvez porque o tempo em que vivem é mesmo esse, cada um dança sozinho. Aliás, nem é bem dançar, é mais tentar mexer o corpo e não conseguir. Elas saem para a noite, para as discotecas, todas “embonecadas” (vem de bonecas), perfumadas, supostamente para dançar, mas na verdade passam a noite praticamente estáticas, de copo e cigarro nas mãos, e a conversarem. Discoteca não é lugar para conversar. Discoteca é lugar para dançar. E de preferência a dois.
Como disse o director do curso de Teatro da UTAD, Levi Leonido, “os jovens de agora são uns velhos”.
E eu acrescento: a tendência da geração é piorar e não há nada a fazer quanto a isso.
Viva a era dos slows!!
2 comentários:
Muito bem. Excelente maneira de lidar com a crítica. Apagar os comentários que apontam os nossos erros. É assim mesmo que se faz. Fecha-se os olhos perante os erros que cometemos e em vez de os tentar corrigir, fingimos que nunca nos enganamos.
Baza, cara de cú...
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