Com 22 anos de existência, a Associação de Andebol de Vila Real (AAVR) continua o seu árduo trabalho de promover a modalidade na região, na tentativa de conquistar mais jovens praticantes e de levar mais público aos jogos. Depois de um período economicamente estável, as dificuldades que se sentem hoje irão colocar à prova uma instituição que, nos últimos tempos, tem trazido jogos de alto nível a Trás-os-Montes e Alto Douro.
Recuemos até 12 de Janeiro de 1988, a data que marcou o início de um percurso em crescendo da prática do andebol no distrito de Vila Real. Fundada oficialmente, nesse dia, por seis clubes (Académico de Alves Roçadas, Associação Pedras D’Água, SVR Benfica, AD Godim, GRC Granja e CA Araucária), a AAVR continua “de pé e cal”, apesar dos “altos e baixos” que tem vivido ao longo destes últimos anos. A actual crise económica será um desafio à colectividade liderada por Adriano Tavares, no cargo desde 2001, que, com menos recursos terá de efectivar uma época desportiva à semelhança das anteriores.
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Presidente da AAVR, Adriano Tavares |
Há 22 anos, o andebol e as restantes modalidades, exceptuando o futebol, estavam congregados na denominada Associação de Desportos. A evolução e a consequente desagregação das diferentes modalidades foram incentivadas pela Federação Portuguesa de Andebol (FPA) nas diversas cidades em que se praticava andebol. “Há clubes que se mantêm desde a fundação da AAVR, outros deixaram a prática da modalidade”, sublinhou Adriano Tavares. O SVR Benfica, a AD Godim e o Académico de Alves Roçadas resistiram às contrariedades, com excepção deste último que, embora não pratique actualmente a modalidade, nunca deixou a sua filiação na AAVR.
Considerada a segunda modalidade a nível nacional e a terceira no distrito vila-realense, em termos de prática desportiva, o andebol continua a atrair jovens e público, embora a crise e a falta de sustentabilidade levem alguns clubes a desistir da modalidade. “Há uma política da FPA que é o incentivo à prática e à isenção de pagamentos em relação a inscrições, seguros e arbitragens, o que normalmente dura dois anos, para ajudar no arranque. Só que, depois, os clubes não se conseguem auto-sustentar”, apontou o presidente Adriano Tavares.
Com seis clubes filiados, neste momento, a AAVR “não consegue suportar” os gastos dos clubes do distrito. “Cada vez mais os meios financeiros são escassos e, por isso, têm que ser partilhados por um maior número de entidades possíveis. Mas, além dos direitos, as entidades também têm deveres. E é aqui que se centra o maior problema, ter uma equipa que consiga criar raízes sólidas.”
Infra-estruturas: quantidade ao invés de qualidade
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Jogo entre Portugal e Eslováquia |
Nos últimos anos, a AAVR tem conseguido dinamizar a região ao trazer para os palcos durienses jogos de alto nível, como as partidas de qualificação para o Campeonato da Europa sub-20 em masculinos, disputadas em Peso da Régua. Para o responsável, estas provas contribuem para “motivar os mais jovens”. “Nos últimos anos, a cidade reguense tem acolhido muitos jogos oficiais, temos sempre a porta aberta. A AD Godim é um clube com vitalidade e, juntando os esforços da autarquia nesta modalidade, tudo se congrega para que consigamos trazer grandes jogos para a região”, reforçou Adriano Tavares, assegurando que isso “contribui para fidelizar público e praticantes”.
Vila Pouca de Aguiar também acolheu, durante alguns anos, grandes jogos de andebol, mas com a desistência do conjunto local, o palco deslocou-se para outras cidades onde o andebol tem encontrado condições para prosperar. E, neste ponto, as infra-estruturas disponíveis para prática da modalidade são “claramente melhores”, mas se comparadas com outros distritos, “não são assim tão boas”. “Há realidades distintas. Vejo concelhos que têm pavilhões para andebol melhores do que necessitariam para a prática que tem e, depois, temos o inverso. Vila Real não se pode queixar do número de pavilhões ao dispor, mas da gestão que é feita.”
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Provas desportivas 2006 |
Adriano Tavares avança com os exemplos da Nave de Desportos, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que, apesar de não ter sido desenhada para eventos de massas, tem acolhido algumas competições, pelo que é “notória” a “falta (e fraca) manutenção”. Depois, avança com os diversos pavilhões espalhados pela cidade, como o Pavilhão do Centro Social e Paroquial de Mateus, o Pavilhão da Escola Morgado de Mateus, o Pavilhão da Escola Jerónimo do Amaral, o Pavilhão do Regimento de Infantaria. “Numa cidade que não tem assim tantos habitantes praticantes, não nos podemos queixar do número de pavilhões, mas da sua qualidade”, criticou. “São diferentes entidades a gerir, com diferentes perspectivas e motivações e tudo isso não facilita o equilíbrio.”
Em relação à construção do novo pavilhão desportivo em Vila Real, Adriano Tavares adiantou que já foram encetados contactos para que a nova infra-estrutura “esteja aberta para acolher jogos de maior nível”, mas “ainda nada está definido”.
Dificuldades económicas são entrave
Gerir uma associação desportiva, nos tempos que correm, só se consegue com “seriedade e muito trabalho”. Com os problemas actuais na economia portuguesa, a AAVR terá um orçamento de apenas 23 mil euros, ao contrário do que se verificou na temporada anterior, em que os valores se situaram nos 65 mil euros. “As situações têm mudado. Desde que entrei para a direcção, as dificuldades financeiras dos próprios municípios têm travado a receptividade para com os nossos projectos”, sustentou Adriano Tavares.
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Sala de formaçao da AAVR |
“Os apoios, além da FPA, do Estado e da parte dos filiados, provêm, em larga maioria, das autarquias”, uma situação que, com a actual conjuntura económica, faz com que o orçamento para esta época sofra uma redução de 70 por cento. Um dos casos que contribui para esta diminuição é a actividade de enriquecimento curricular (AEC) que a equipa da AAVR efectuava em Vila Real. “Tem que haver uma gestão financeira rigorosa, porque os meios tendem a ser mais escassos. Tínhamos um protocolo com a Câmara Municipal de Vila Real no que diz respeito às AEC, o que engrossava o nosso orçamento, mas o término do acordo veio reduzir consideravelmente as verbas disponíveis”, lamentou.
AAVR já é uma associação de utilidade pública
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Exterior da sede da AAVR |
Um dos principais objectivos da actual direcção começou há já algum tempo: tornar a AAVR uma associação de utilidade pública, um desejo concretizado a 21 de Junho de 2010. “Demos um passo muito importante, porque isso dar-nos-á mais-valias. Espero que consigamos tirar daí os proveitos que uma instituição de utilidade pública tem direito”, reforçou Adriano Tavares. É que, no que diz respeito aos apoios, a AAVR pode aproveitar a Lei do Mecenato e as vantagens que daí decorrem para as empresas doadoras. “Qualquer instituição que dê um donativo à AAVR terá um benefício fiscal de 120 por cento. Por exemplo, se derem cem euros, vão descontar 120.”
No entanto, todo o “processo foi complicado”. Além do tempo despendido pela direcção, Adriano Tavares criticou a morosidade e a complexidade burocrática inerente a estes procedimentos. “Hoje fala-se tanto no Simplex, mas é tudo menos simples.”
Por: Ana Teixeira
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