No dia 13 de Dezembro, é o dia de Santa Luzia e manda a tradição que as raparigas da cidade ofereçam o pito aos rapazes por elas escolhidos. Para que, no dia 3 de Fevereiro, dedicado, a São Brás, os mesmos rapazes retribuam as raparigas com a oferta da gancha. De referir que o pito é um bolo com recheio de doce de abobora e, a gancha um rebuçado em forma de báculo bispal.




Como em todas estas tradições esta também tem a sua lenda:
Era uma vez uma moçoila que inventou os pitos quando foi servir para o Convento de Santa Clara, onde tomaria o hábito depois dum noviciado entre a cozinha e o apoio aos pobres e aos doentes a que a ordem, na sua misericórdia e caridade infinitas, dava guarida de hospital.
Maria Ermelinda Correia, depois Irmã Imaculada de Jesus, era muito gulosa.
Na sua inocência, começando a percorrer os caminhos da Fé e da Doutrina para o noviciado tornou-se devota acérrima de Santa Luzia, orago dos cegos e padroeira das coisas da vista.
Foi assim que os pitos de Santa Luzia lhe foram consagrados, e como tal testemunha a festa que ainda hoje, a 13 de Dezembro, na capela de Vila Nova, mantém a tradição.

E como aparecem os Pitos?
A ainda Ermelinda, aspirante a irmã Imaculada de Jesus, tendo ouvido a história do Milagre das Rosas, a orar a Santa Luzia teve uma visão que lhe aplacou a alma num milagre de doces esperanças.
Naquela manhã fizera o curativo a uns quantos doentes. Na maioria dos casos foram feridas, contusões e inchaços nos olhos. O remédio daquele tempo eram os «pachos de linhaça».
Eram uns quadrados de pano cru onde se colocava a papa, dobrados de pontas para o centro para não verter a poção. Eram colocados, como um penso, no ferimento.
Correu à cozinha e fez uma massa de farinha, pois a pouco mais tinha acesso, e cortou-a em pequenos quadrados. Não tinha doce mas, tendo guardado o cibo de açúcar que lhe cab
ia em ração, fez uma compota de abóbora.
Dobrou a massa por cima da compota, à imagem dos «pachos», e cozeu-os no forno sempre quente a qualquer hora do dia. Despachou-se de seguida a escondê-los debaixo do catre da sua cela.
No caminho cruzou-se com a Madre Superiora (que era praticamente cega). No meio da escuridão a abadessa pergunta-lhe o que leva no tabuleiro. A velha senhora ainda empina o nariz para ver se adivinha pelo cheiro.
«São pachos de linhaça irmã Madre... Para os meus doentes que amanhã virão».
Não eram muito agradáveis à vista mas, satisfaziam-lhe a gula e calavam na profundeza da alma o pecado que não se sentia porque comendo-os na escuridão da cela e da noite, sabia, porque o tinha ouvido dizer, «do que não se vê não se peca».

Por: Tânia Carvalho

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